quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Retorno...


Volto a mim
Tenho uma morada silenciosa
um porto inseguro
que de tempos em tempos revisito
de mãos vazias
de fronte úmida
...
nenhuma fanfarra na entrada de mim
ninguém no portão
nenhuma luz acesa
apenas um excesso
de espaço
...
no vazio um certo alívio me saúda ao chegar
hospitaleiro, cativante, conhecido
Ah! amigo traiçoeiro
faz-te sempre acompanhar daquela que me devora o sono
como um abutre a bicar-me os olhos
...
na escuridão do regresso
a solidão crava as unhas em meu peito e arranca fora meu coração
levantando-o como um troféu de sangue
um prêmio pela vitória paciente
...
abandono meu corpo frio quase imóvel
ao apetite desta fiel companheira
e permaneço com o pensamento fixo
certo de sua crueldade
...
mas, ai Natureza!
para meu torpor, em algum momento
percebo que minha algoz, generosa
vai pouco a pouco
me devolvendo a mim
como a mãe que expulsa o feto do conforto do ventre
mas dá-lhe a vida
...
sinto assim
um soprar fresco
que dia a dia preenche o espaço vazio
preparando-me para uma nova viagem.
A.Lia

Um comentário:

Felipe disse...

somente quando o coração do discipulo existir o vazio é que o mestre poderá plenifica lo