segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Vôo cego...

Se eu pudesse comprar um bilhete com meu próprio destino
compraria um com hora de embarque,
com assento marcado
mas meu vôo é cego... de desejo.

A.Lia

Vão-se os valentes...

O que terá acontecido à geração dos valentes?
Por onde andam os heróis de guerra?
A era dos homens fortes desapareceu
e na ausência restaram meninos frágeis
que se escondem da lida em trincheiras
doces, refugiam-se em sua sensibilidade excessiva
cheios de dores e de amores
por vezes chorosos e dependentes..
Onde está a geração dos que sabiam
ou fingiam que sabiam
e de tanto fingir
acabavam sabendo..
Onde estão os que eram da linha de frente
os que iam seguros e adiante
aqueles de tiro certeiro
de palavras poucas
de ações muitas
sisudos
fechados
mas de coração grande e generoso
Ah... o que terá acontecido aos homens de caça?
estrategistas, astutos, confiantes e habilidosos
donos do seu destino..
Estes homens se foram
caíram de moda..
e eu... eu espero ter partido quando as mulheres realmente dominarem o mundo
e aniquilarem de vez o que de mais belo um dia existiu nos homens:
a valentia, a coragem, a iniciativa
e a força genuína e instintiva do olhar.


A.Lia
***A foto acima é de Harry Patch, o último veterano da Primeira Guerra Mundial a ter lutado nas trincheiras, falecido aos 111 anos no útimo dia 25 de julho.

Oração do artista...


Senhor, eu quero ter os olhos do sol
quero ser uma explosão lancinante
quero meu sangue um rio de lava
e meu corpo uma pequena ilha em formação
em brasa
sem pele
Que dos meus olhos desçam tormentas
derramando-se pelos poros abertos
dos meus cabelos exale o perfume dos desejos proibidos
e da minha boca cuspam-se faíscas
Ah meu Deus! Livre minha alma de ser morna
Mas me faça sempre generosa
escorrendo de minhas entranhas o bálsamo cicatrizante das feridas purgadas
e de minhas palavras um hálito esperançoso
Que dos meus pés, Senhor, caminhem raízes em busca de alimento
e minhas mãos iluminem o caminho dos que buscam
dos loucos de coração
dos valentes
Amém.
A.Lia

domingo, 20 de setembro de 2009

Promessa..

eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo... começar o regime na segunda e SÓ TERMINAR NA SEXTA!

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

?...


O que dizer quando as palavras não fazem sentido?
Para onde andar quando os pés estão pregados no chão?
Como sonhar se o sono não vem?
Para onde apontar se minhas mãos estão coladas ao rosto?
Meus olhos nada querem ver a não ser a beleza dura e fria das certezas
Meu coração se recusa a sentir, exceto aquilo que lhe conforta
Mas minha alma anseia
e meu corpo sofre de desejo
e nesta ânsia de desespero
meu peito vomita um pedido mudo de ajuda
mas o ouvem apenas meus ouvidos trancados
E aí, no limite da dor e por alguns instantes,
minha boca rasga o silêncio num urro subversivo
lançando longe tudo aquilo que se esconde por detrás da dúvida
da covardia
da solidão
Sei que em algum ponto desta imensidão
meu grito ecoa
e lá naquele recôndito, bem alí
estará o sono para meus sonhos
o conforto para meu peito
o sentido para minhas palavras
e o eco da minha alma.
A.Lia

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Madrugada...


Nessas madrugadas em que o sono tarda
o silêncio seria meu mais fiel inimigo, não foste tu...
Ouço-te, curiosa de tua cor
de tuas formas
de tuas intenções..
Inicias teus lamentos por volta das três
seguindo por um bom tempo
No início penso estares em minha janela
Mas ao longo de tua rotina
percebo que te afastas de mim
ocasião em que carece esforçar-me para ouvir-te
Ah.. doce trovador
diz-me de que tratam teus acordes
és meu companheiro na solidão da noite?
Por vezes, imagino-te ao pé de um galho
com tua penugem fria e orvalhada
evocando tua amada
tecendo versos desesperados
anunciando aos poetas tuas dores e teu desamor
Por vezes imagino-te celebrando tuas dádivas
deitando nos ouvidos da escuridão as tuas juras de amor
Ah.. amigo oculto
espalha em cada gota de orvalho
tua esperança
tua beleza
e me ensina a celebrar a vida
pois meu canto é triste
e minha existência incompleta.
A.Lia

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Éphémère...


Como funciona esta vida?
Ontem as orquídeas da minha área de serviço estavam lindas
não sei quanto tempo se passou
e hoje estão murchas
nem tive tempo de transferí-las para um vaso mais formoso
onde pudesse contemplá-las com mais vagar
rapidamente a beleza se esvaiu
numa velocidade muito acima daquela experimentada pelas minhas aflições
eu quero ter a rapidez da beleza
mas me dou conta de que sou a própria orquídea
de gestação lenta
de beleza efêmera
frágil
de morte certa
de ritmo próprio
sorrindo ao sol.
A.Lia

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Fé...

Sinto que vivo errada
na contramão das sensações
que passam através de mim
usando meu corpo e minha mente
Vivo reclusa num abrir e fechar de possibilidades
que variam do amor ao ódio
da esperança ao desespero...
eu não tenho fé.

Se eu pedisse ao nascer
pediria fé
fé na vida
fé nos outros
f'é em meus pés
em minhas mãos
em meus sentimentos
em meus desejos
em meus amores
queria caminhar firme e otimista...
mas me falta fé.

Às vezes corre pelas minhas veias
uma sensação de poder
que logo logo se enfraquece
dividindo-se pelos caminhos do meu corpo
dissolvendo-se
virando nada
e volto ao meu estado vazio
de incertezas, de dúvidas
sou pessimista
lenta
precipitada
sou vazia de interesses
sou oca de entusiasmo, então,
saio de mim
me abandono na mais pura descrença
cansando-me, largo-me às favas
e sozinha, reinicio o ciclo de poder
acreditando que posso tudo....
mas me falta fé.

A.Lia

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Bagagem...


Algo de antigo aprisiona minha alma
um medo infantil do amanhã.. uma convenção estúpida
uma bagagem falsa
que admitindo-se verdadeira, estaria em mim por repetição...
carrego em meu ombro um peso morto que fere meus desejos mais sinceros
A realidade que o medo me enfia goela abaixo não é minha
as regras não são minhas, as escolhas não são minhas
vivo alheia a mim mesma e pela metade
Peço-me agora a coragem de romper com aquilo que não sou eu
e tomar as rédias do meu pensamento oscilante
medroso
Nao, minha alma
a ti não pertence esta sina
a ti está reservada a liberdade dos espíritos puros
Passo neste momento a traçar o meu próprio destino
com a cor que me aprouver,
as consequências serão das minhas próprias ações
não beijarei a velhice com o peso do outro
quero meus próprios fracassos
meus próprios sucessos
vem amor, vem medo, vem fortuna
quero receber-vos de peito aberto
e não me enterrarei antes da morte
aliás, nem aí estarei sob jugo
ao contrário, serei ainda mais livre
mas levarei comigo apenas a minha bagagem
por direito e por dever
Me liberto hoje
desta herança morta.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Guerra...

Estou preenchida por um vazio cheio
como uma fresta de luz que invade um quarto escuro
meu peito está cheio de planos
meus sonhos cintilam na nesga iluminada
meu sangue dança acelerado
enchendo meus minutos de ritmo e de saudade
caminho confiante nesta faixa cintilante
e me lanço num fluxo de possibilidades

Uma outra parte do meu peito resta na escuridão
onde a luz não alcança
onde os sonhos escapam
onde o sangue ferve de pavor...
Mas não serei covarde
serei heroína da minha história
se tiver de cair
que seja em batalha
e não na trincheira
uma vez ferida, que seja no peito aberto
Vem vida
eu aceito a guerra
e vou festejar vitória em campo...
e de posse das minhas próprias armas
vou declarar paz a mim mesma.