quinta-feira, 3 de abril de 2014

Assim seja...



A mim, me pareço tua desde sempre
A ti, me parece que pertencem esses meus olhos tristes
Para nós deveriam ter sido feitos todos aqueles dias
de tentação e chuva.

Mas não fui tua e não fostes meu
A despeito da perfeita criação
Andamos por aí, ao redor
sempre perto, tão longe.

Que sob o sol nosso de cada dia
possamos santificar nossas escolhas
que sejam feitas nossas vontades
E que o destino nos perdoe de nós mesmos

Assim seja.

A.Lia

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Intermission...


Convivo comigo como quem dirige um filme
meus olhos são duas lentes
numa busca constante
de estéticas e argumentos.

Com data de estréia marcada,
não tenho trégua, não abro concessões
filmo e re-filmo
numa sucessão desesperada de erros.

Ultimamente, venho dobrando os papéis por falta de elenco
num filme de um único obssessivo cenário
com começo, mas sem meio
numa direção enfadonha e desgovernada.

Talvez seja hora de pausar as lentes
escrever o roteiro
entregar a direção
adiar a estréia.

A.Lia

terça-feira, 1 de abril de 2014

Nossa rua..



Olhando assim, de longe, por fora
somos um casal
Mas de perto, nosso amor é uma rua
e nós, as calçadas.

Nossa vida se encontra de tempos em tempos
sempre que um de nós, por algum motivo, atravessa a rua
Enquanto isso envelhecemos
andando sempre em paralelo.

Talvez nosso destino seja esse
estar em paralelo
vivendo nas entre-safras de nossos encontros
sem colher nada em comum.

Algo em mim
diz que com você estaria em casa
no conforto de um lugar conhecido
na segurança de um amor antigo.

Te desejo com tudo que existe dentro de mim
e me entrego ao teu corpo sem pudores
esperando que numa destas noites
nosso amor se encontre numa rua sem saída.

sábado, 6 de abril de 2013

Assim como...


Por algumas horas tua atenção me arrebatou
Tua palavra firme, tua escrita familiar
me foi um bálsamo tão necessário
como se fôssemos há tanto tempo

Alguma coisa a mais do que o óbvio
Me prometia uma certeza tão esquecida
e tão de repente presente, que fui convencida
como se fôssemos reencontro

Ao te olhar nos olhos
não sei se me perdi no azul
ou no emaranhado significado da tua presença
como se fôssemos apenas o que somos

Busquei com elegância desesperada
encontrar retorno na lembrança das tuas palavras
e por um segundo desejei te desvendar, sem rodeios
como se fôssemos um código decifrável no eco

Mas foi só um desejo
um delírio sem rumo
vencido pela tua força precisa e dedicada
como se fôssemos apenas médico e paciente

Houve sim um reencontro
houve sim uma conexão
entre mim e o engano, entre mim e você
como se fôssemos apenas gentileza.

A. Lia

terça-feira, 10 de abril de 2012

Toque de recolher...

Fui traída por mim mesma
Nenhuma gota de àlcool me consome
mas bêbada de ti, me enganei de corpo
e principalmente de alma

Cega de afeto
minhas mãos e minha boca te percorreram
como se nada mais fosse possível além de nós
tudo tão certo, tão bem feito
teu carinho é tão exato no meu corpo
teu tempo é tão igual ao meu

É disto que é feito o amor
de tempo
e também de erro
e de dor

Um erro fatal me tomou de surpresa
nada é realidade do muito que significou para mim
Meu sangue diluído em dor
percorre meu corpo atrás de indícios contrários
deixados com tua ternura
mas só encontra sinais de que tenho sido feita de desilusões
de enganos

Teu pedido de desculpa
soa como um toque de recolher
recolher os pedaços
do que sobrou daquilo que vivi sozinha

A.Lia

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Nós...


Uma outra de mim ocupa tua memória
como se não tivesse havido futuro
como se não houvesse nada
além daquelas nossas noites clandestinas

Mas o tempo bateu na porta, eu abri
e foi uma longa conversa
por vezes uma confissão forçada
arrancada..necessária

Aquela menina daquelas noites dançantes
ficou em algum lugar do caminho
mas o anseio por ser tua
esse o tempo trouxe com ele

Hoje é uma mulher que te deseja
de corpo e de alma
sem jogo
sem voltas
pra todo mundo ver

Te quero como sempre
como nunca te quis
como meu
como nunca foste

Mas esse mesmo tempo
que me fez mulher, que te quer a cada dia
levou os teus desejos de mim
e agora a sensação que eu tenho
é que nunca seremos

O tempo ri me dizendo
que, talvez, nem mesmo naquelas noites jovens
tenhas me querido como eu
pois dou-me conta que sempre dependeu de ti

Estaremos sempre juntos, porém
nas entre-safras
no meio do caminho
provisórios... clandestinos.

A.Lia

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Para quem não sou...

O teu amor é um blefe

Não, o teu amor não é um blefe

porque ele não é amor


Quero arrancar de mim a obrigação

de ser amada porque sou teu fruto

sou um fruto podre para ti

inoportuno


Sou apenas um costume

uma roupa justa

ou um sapato apertado, não

um sapato apertado nos livramos

e você não se livra de mim

sou um calo, um asco

se pudesses me vomitaria como uma comida estragada

sou uma nota promissória

um mal necessário


Hoje arranco de mim

a obrigação de ser algo a mais

sou um teu apêndice

absolutamente desnecessária.


A.Lia

domingo, 11 de setembro de 2011

Latência...


Por maior que seja o desencontro
por mais que o destino encha nossas vidas
de nada
de tanto

Por mais que seja certo
que as escolhas nos levem
pra longe
pra frente

Por mais impossível que seja voltar
àquela estação
de onde partiram nossos desejos
com bilhete só de ida

Por mais que o tempo tranque as portas
feche as cortinas do nosso espetáculo
pra nunca
pra sempre

Existe um brilho no teu olhar
escondido em cada encontro
em cada memória latente
daqueles quatro dias de amor.

A.Lia

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Agora...


Sinto agora
um enorme desprezo
por aquilo que poderia ser
Passo a viver com aquilo que tenho nas mãos
Viverei como se daqui a vinte anos
ou com a hipótese de não haver amanhã
viverei apenas
aqui
Agora
com aquilo que tenho de mim
Olhei-me
de perto
e gostei muito do que vi
Nada mais de promessas de futuro
viverei apenas
aqui
Agora
Aquilo que poderia ser
me fez enxergar quem eu sou
eu sou eu
eu sou
Nada além
Sei o que não quero
Passo a descobrir o outro
Agora
a amar o outro
Agora
aqui
Quero aquilo para quem significo
para quem sou ausência
Serei toda instante
aquilo que poderia ser não me interessa mais
serei o que é
aqui
Agora.




A.Lia

domingo, 28 de agosto de 2011

Espelho...

Olhar-se não é tarefa das mais fáceis
Mormente quando nada se vê
Não se pode dizer que nunca tenha tentado,
mas pareço-me aos olhos sempre um amontoado de cores
indisciplinadas
Não destaco movimento ou tendência
Nada que possa definir-me
Uma mancha amorfa
Sou um borrão.



A.Lia

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Love...

Você
aí do outro lado da janela
diz como é essa sua vida
me conta se vale à pena

Me dá um gole
corre léguas comigo
desmancha meu cabelo
presta atençao em mim

Me diz como eu sou
fala mal e bem de mim
me proíbe de coisas
me compra um vestido

Quebra essa janela
senta aqui comigo
e diz que morre por mim
de tanto viver.

A.Lia

domingo, 10 de julho de 2011

Além de si...


Eu queria ter nascido para fazer a diferença
queria inventar uma teoria que revolucionasse a física moderna
ou algo no nível da penicilina
uma sinfonia, um best seller

Queria viver um amor que fosse contado e recontado
por séculos
que virasse filme
ou um livro estudado nos bancos das escolas

Eu queria inspirar as pessoas
criar um movimento
um ícone
ser estudada em várias línguas

Mas eu sou apenas eu
e já me custa tanto
que abalar a física moderna
seria tarefa mais fácil

Quão sem graça e mesquinho
é viver ao redor de nós mesmos
a grandeza está em viver "para"
fora de si.

A.Lia

domingo, 1 de maio de 2011

Há dias tento expressar-me
e não consigo
As sensações estão em repouso, os gestos econômicos
o sorriso escondido

Há alguns dias que deixe-me para lá
e vim para cá de mim
para uma terra de ninguém
distante de tudo que é meu

Aqui chegada
percebo que não tenho nada
pouco de mim faz sentido
pouco de mim sou eu mesma

Nestes dias em que me falto
vivo emprestada, buscando respostas
na esperança de conseguir pagar-me
e devolver-me a mim mesma

Para existir falta-me um preço
um valor agregado
não sei quanto valio
por mais que ande de cá para lá de mim

Nessa imagem refletida
tudo tanto faz
tudo que vejo é nada
tudo que sinto é ausência.

A.Lia

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Bach...


Esta noite só quero o conforto
de uma vela acesa
e desta Aria
sulla quarta corda

Bach e a penumbra são um alinhamento necessário
do ouvido com os olhos
e com a alma
que pede calma

Meu corpo reclama tua presença
mas forço meu corpo a esperar
à luz somente desta chama
que insiste em dissipar a escuridão
à despeito do tempo que sopra veloz pela janela

Me desespero ao pensar
que este sopro pode apagar a vela
e nos levar à escuridão
mas se fosse imortal
não seria chama

Então
fecho os olhos
e apenas sinto como se estivesses presente
um sentimento enjaulado
à beira da liberdade

Não é tristeza
é uma enorme angústia
é certeza
é sólido
é amor.

A.Lia

quinta-feira, 17 de março de 2011

Medo...

De repente me senti vazia de ti
talvez porque não sinta que estás preenchido de mim
procuro dentro de mim algum pertence teu
algo que tenhas esquecido
no fundo da gaveta
alguma coisa que me aqueça da tua distância

O devaneio pela procura rasga meu peito
minha carne
envolve minha mente de dúvidas
e me traz um enorme desejo

Então vivo por esse devaneio
pela vontade de ti
numa espera sem razão
com medo de perder algo
que ainda não tive.

A.Lia

quarta-feira, 9 de março de 2011

Vento...

Uma rajada de vento
vinda do mar, densa
perfumada
carregou consigo um lenço deixado na areia

Caminhávamos desconhecidos um do outro
e de repente
fomos atingidos
ao mesmo tempo

Desde então
caminhamos vendados
com nossas cabeças envoltas
cegos, surdos e mudos para o mundo

Algo nos diz que lá adiante
o vento carregará o véu
e seremos nós, sem reservas
expostos ao tempo, livres.

A.Lia

sábado, 12 de fevereiro de 2011

As rosas...


De uma maneira inesperada
de onde menos se anunciava
a felicidade apertou-me as mãos
e saudou-me firmemente
dizendo que veio pra ficar
de mala e cuia
Explicou-me o motivo da demora:
ela veio de logo alí de longe
caminhando
contando passos
Num primeiro momento distraído
apressei-me em chamar-lhe à atenção
Porque não vieste antes?
Esperei-te por tanto tempo
veio o frio
a fartura
a chuva
o riso
a dor
apenas tu não chegaste
A felicidade olhou-me nos olhos
e despejou-me em uma das mãos
um punhado de pedrinhas...
Por alguns instantes percebi já conhecê-la
só assim, de passagem...
Não vou mentir-te - disse ela..
Poderia ter sido mais breve
se tivesse recolhido rosas para entregar-te
pois estavam pela superfície
e havia dúzias pelo caminho...
Estas pedrinhas que te trago
não tem o perfume das rosas,
mas, as rosas
ah! ...as rosas são efêmeras...
e os diamentes são eternos.
A.Lia

sábado, 5 de fevereiro de 2011

L de letrinha...

Olhava meu livro
com olhos de menina
Lia
re Lia
sempre eu...

Contudo, apesar das milhares de letrinhas
bailando bailando
minha histórinha nunca terminava com um "... felizes para sempre"
e as letrinhas cansadas de tanto bailar
iam cada uma para um lado
desconexas

Até que uma noite
depois de divertidas e incansáveis
cinco horas de leitura
percebi uma página
em branco
uma página que sempre esteve ali
talvez colada em outra
escondida

Desde então,
mantenho meus olhos fixos no vazio das letrinhas
e sinto que posso escrever tudo
tratados internacionais
acordos de paz
segredos
receitas de brigadeiro
ou uma simples história de amor
...com final feliz.

A.Lia

domingo, 19 de setembro de 2010

Mãe...

O que mais me dói
é a dor que não sinto
é a dor que vejo em teus olhos
que quero arrancar-te do peito...
Quero ter algum controle sobre teu sofrimento
qualquer coisa que amenize tua angústia
quero estar em teu lugar
mas se em teu lugar estivesse
sofrerias tu
o que ainda mais me faria sofrer...
Sofro eu
Sofres tu
mas, também, quem foi que disse que viemos a passeio...



A.Lia

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Engano...

Me faltam as palavras
me falta o fôlego
te rogo de joelhos
me diga que não
és tu esta noite
este estranho
que por tantas vezes habitou-me
um lugar tão seguro
de certezas minhas
que de tão minhas
morrem comigo
num engano letal
que leva todas as minhas ilusões
e deixa as dores
que de amores padeço.





A.Lia

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Guerra e Paz...


A guerra me custa o sono e a razão
me ocupa a alma de delírios
de prazeres e desgostos
Mas o mesmo preço alto da guerra
me custa a paz
uma espécie de unguento anestésico
que me consome o ímpeto
os desejos ardentes
É certo, com a paz chega o conforto
e com o conforto certamente a morte
mas esta
esta virá inconteste
na guerra ou na paz.

A.Lia

terça-feira, 20 de abril de 2010

12 secondi...


Ci siamo ritornati a lo stesso posto
da quel'autobus force non ci sará piu nulla
le aspecttative ci sono andati
ma qualche cosa di particolare
un pezzo di mistero
é rimasto nel tempo
intato, in attesa
dai nostri passi
lenti
pieni di distanza e desiderio.

A.Lia


domingo, 14 de fevereiro de 2010


A prática é mais simples que a teoria
o silêncio é mais simples que a palavra
o pensamento afasta
a ação aproxima
a coragem realiza
o amor é um passo
uma atitude
eu te escolho
meu homem
meu amor
meu companheiro
meu amigo
... te farei feliz.
A.Lia

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O fim...


Sujeito tinhoso
é o fim da dor...
De vontade lenta,
é sujeito de nenhuma compaixão
pelos corações despedaçados pela saudade
mendigos, moídos pela dúvida
pobres coitados a suplicar pela cura
O sujeito só dá as caras quando ele quer
e aos amadores resta a farsa
o encolhimento, o aperto
e a tentativa de sobreviver em meio à dor
que consome, a conta gotas, todos os momentos
as intimidades, os sentidos
o brilho dos olhos
O sujeitinho, além de difícil
não é santo milagroso
não traz com ele o riso largo
nem a fome de viver
é apenas um bálsamo
um respiro um pouco mais folgado no peito
uma casca de ferida
que prepara a nova pele
é uma certeza lá no fundo da alma, uma esperança
na renovação da vida.
A.Lia

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010


Para onde irão as palavras que não puderam ser ditas?
A.Lia

Órbita


Em alguns instantes
sou simples
por um flash de segundo
entendo tudo
o mecanismo do universo
a engrenagem da vida
sou parte...
No resto
estou à parte
apartada
partida
em pedaços
em órbita
em torno de ti.
A.Lia

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Essa gente...


Porque que a gente quer sempre ser
alguém que a gente não é
e que nem sabe quem é
esse alguém que a gente quer ser
e aí essa gente que a gente no fundo é
e que não sabe que é
acaba sendo mais gente do que aquela gente que a gente queria ser
e que por a gente não saber quem é
acaba sendo a gente mesmo.
A.Lia

O cuzcuz...



Felicidade é
fazer um saboroso e suculento cuzcuz
com milho amarelinho
ervilhas verdes
tomates frescos
muita salsinha e cebolinha
e ainda na categoria dos fresquinhos, o coentro
mas com ele já se faz lá outra história
polêmico, arrisca-se por demais na receitinha.
Sem delongas e com muita objetividade, feita a mistura,
unta-se carinhosamente a forma
decorando-a com ovos e tomando muita atenção na simetria
para que siga, então, ao refrigerador
...
...
O preparo ocupou-me a mente
mas finda a empreitada
sinto um misto de orgulho e de tristeza
estou só.

sábado, 2 de janeiro de 2010

meu primeiro amor...


Eu sei que no último instante da minha vida
será teu meu pensamento,
não que isto me alegre a existência
é uma triste certeza
adquirida no resto dos dias em que vivo na tua ausência

Eu sei que é uma saudade solitária
de tudo que prometíamos ser
e não fomos...
..há decadas que não vejo teus olhos
que não sei nada de ti
nos perdemos no início desta vida
pra nunca mais...mas vivo com o tormento das lembranças,
com o nome do filho que teríamos,
com nosso primeiro beijo,
nossas tardes de amor nas casas abandonadas,
com teu cheiro ainda pairando ao meu redor...

Eu não entendo...
não entendo e não entendo
pois, amei outros homens, fui feliz
vivi muito mais do que contigo
mas a quantidade não é o que me consome os dias
a dor vem deste amor unitário,
desta pergunta que não tem resposta,
da revolta por carregar sozinha a mortália deste amor

Talvez nunca venhas saber
do quanto
de como
de nada...
o que é ainda pior...
alguém me disse um dia
que passamos muitas vidas juntos
dependentes
rebeldes, infantis, malvados
e então, concordamos em vir desta vez separados
com o nobre propósito de aprender a vida
um sem o outro...

Mas porque então nos encontramos logo no começo?
...talvez tenha sido uma tentativa minha, desesperada, de evitar esta prisão,
e assim, já comecei a vida trapaceando
porque (espero que não tenhas esquecido)
me apaixonei por ti recém completados dez anos
no primeiro dia de aula
tu já aos quatorze,
atrasado e mau aluno repetente,
com aquela mala preta, tímido
lindo... meu amor...
Ai de mim! Como são ainda vivos em mim estes momentos

Hoje, já aos quarenta, percebo que
no que pesem todas as provas bimestrais que te passei cola
durante os onze anos em que vivemos juntos,
não tenho sido boa aluna...
não estou conseguindo aprender a lição da solidão
ao contrário de ti
já curado de nós

Mas, por Deus, porque continuo sendo castigada pela memória
porque somente eu carrego este fardo
ao passo que tu tiveste os olhos lavados
de todas as nossas visões
e seguiste tua vida
ao longe... livre

Bem, depois de vinte anos de ausência
me resta aceitar tua presença em meus sonhos
carregando teu vulto noites adentro
e, de repente, num salto,
grito num grunhido disforme: TE AMO!!!!
E como num hotel, atordoada, aos poucos, entendo onde estou
e sei que horas se passarão até que eu esqueça a sensação de tua proximidade.

Estou acorrentada...
mas eu prometo que no dia de tua morte
irei ver-te
vou me despedir de ti
e alegremente direi: até breve meu amor
sei que não faltará muito pra te encontrar e entender os porquês,
porque ainda choro como se fizesse horas que nos separamos,
porque não respondeste a carta de amor que te mandei,
porque só eu te amei?

Enquanto isso,
vivo meus dias entre os eventos desta vida
carregando do lado direito do peito
um outro coração, morto,
um pedaço de mim que só sente saudade
um membro inútil que não se pode amputar
latejando em mim o que ficou de ti.


A.Lia

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

2010...


Por alguns momentos nosso futuro me escapa aos olhos
e me entrego à solidão
como uma virgem entregue ao sacrifício
em conformidade com a tradição

Mas depois de algum tempo
alguns pequenos milagres saltitam na rotina
e a sólida realidade se desfaz frente à força do desejo
sentido com cada fibra da minha alma

E eu sei que na hora correta
seremos o mais lúcido reflexo
de um feliz e inseparável improvável
seremos um par
de vasos
com flores
e amor
A.Lia

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Para uma menina...


Para esta menina
de olhos noturnos
de ritmo acelerado
de grandes conquistas
e sólidos triunfos

Para esta menina
que em minhas memórias sopra
como uma brisa lenta e fresca
mas que de tão distante
embaraça minhas lembranças

Se soubesses menininha linda
quanta falta sinto daqueles dias ensolarados
cheios de mar
em que éramos nada
apenas crianças

Por vezes, ainda ouço nossos sorrisos
rasgando o silêncio da vida madura
desenhando em meu rosto um esboço
tímido e sem jeito
da alegria de antes

Hoje vejo, de longe, tuas vitórias
mas não mais teu riso encantado
talvez não tenhas mais tempo
pois, somente os tolos, com eu, se embriagam de saudades

Mas, esta noite, o silêncio me contou
que os dias da infância são eternos
e apesar da distância que insiste em apagar o passado
ainda vejo em teu rosto de beleza única
a essência daqueles dias de sonhos

Por isso, em mais esta madrugada em que o sono me foge
és minha inspiração para estas linhas tortas
assim como para esta vida louca
que sorrateiramente nos afasta
daquela feliz falta de previsão

Assim, formosa menina dos olhos distantes
não permita, nem em nome das vitórias
nem pelas certezas do futuro
que aquela brisa lenta e fresca de outrora
se transforme em um tufão de conquistas sem lastro e sem passado
levando consigo a poesia dos teus olhos e o encanto do teu sorriso.

A. Lia

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O ombro e o braço...

Quando você se sentou ao meu lado
em meio a tantos assentos vagos
teu braço tocou meu ombro
e permaneceu..
..por ora estávamos colados
fixos na impressão de que sempre estivémos alí..
A temperatura da tua pele me confortou
e no calor do desconhecido fechei os olhos..

Chegada a tua parada,
num impulso egoísta de tuas pernas
teu corpo se pôs em pé
e meu ombro deu adeus ao teu braço..

Veja você, como é a vida:
os desavisados cultuam deveras o olhar no ato de amar
entretanto, curiosamente, não saberei te reconhecer pelas ruas
pois meus olhos não conhecem os teus..
mas meu ombro, todo pomposo de sua autonomia
guardará em sua memória apartada, aquela tarde de amor.
A.Lia

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Se...

Ah .. minha amiga
porque escolheste brotar em solo tão inóspito?
escolheste tu, a solidão?
ou tua semente fora deixada pelos pássaros descuidados?
dize-me, o que sentes nestes dias em que o sol dorme
e o mar revolto lança sobre ti fúria e frustração?
Que destino dás aos teus desejos,
quando por dias e dias
restas sem nem mesmo um passarinho, piedoso de tua solidão
a pousar em teus galhos numerosos?
Ah, minha amiga,
se estes tolos voadores soubessem
quanto abrigo tens a oferecer
quanto alimento e repouso podes ofertar
quão segura e hospedeira é a tua companhia,
eles voariam por sobre o mar

até o sol, a suplicar que ele se fizesse logo primavera
e não deixasse nenhum dia de brilhar em tua copa
para que eles pudessem habitar-te por toda a estação
e tu serias alegre e verde...
e quando o inverno cinza chegasse,
levando com ele tuas folhas,
descançarias feliz,
na memória daqueles dias ensolarados.

A.Lia

A máscara...

Nasci sem sorriso
e triste por não saber sorrir
desenhei num pedacinho de papel, uma máscara
para que ninguém mais me chamasse de "olhos tristes"

Carrego comigo a máscara do sorriso
como um guarda-chuva ou uma sombrinha
dependendo do tempo...
e embora por muitas vezes ela me pese
mais até do que a própria derrota
tenho insistido em sua companhia

É curioso, mas, ultimamente tenho notado
que mesmo sem minha máscara
esboço, de vez em quando,
um sorriso
pela metade
porque sorrir é um enorme fardo para quem nasceu sem esta habilidade
como se a gravidade agisse também sobre o riso

Mas, pouco a pouco, estou aprendendo
que apesar do esforço
sorrir é digno
e ser gentil com a dor, alivia

Assim, dia-a-dia, vou usando minha máscara pelo caminho
na certeza de que um dia ela será parte de mim
e do meu rosto brotará um sorriso
inteiro
sincero e constante.

A.Lia

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Sombra e água fresca...


Não me reconheci o dia todo
existi fora de mim
expulsa do meu próprio corpo
cansado..

Tenho me esforçado muito nos últimos tempos
algo dentro de mim cumpre uma jornada de 24 horas ininterruptas
caminhando por areias escaldantes
em busca de mim mesma

Meu corpo, abusado, busca a sombra
e minha mente, água fresca
tenho sido escrava de minha alma
e agora preciso descançar
..vou em busca de abrigo..
preciso apenas de um mar
do barulho das ondas
do universo caminhando independente dos meus esforços
da vida plena
simples
divina.


A.Lia

sábado, 28 de novembro de 2009

O balão vermelho...


Já ao longe
vejo o balãozinho vermelho
dançando ao sabor do vento
todo pomposo
subindo e subindo

Pode ir balãozinho
não posso mais deter-te no calor seguro de minha mão
teu fio me escapa aos dedos
levado pela força sedutora do vento
que alisa tua pele corada
e te embala com volúpia

Mas te conto uma novidade balãozinho
não tenho mais medo, pois,
guardo comigo um segredo:
o ar que te coloca no colo do vento
é o sopro dos meus desejos mais profundos...
E assim amiguinho
quando te romperes
já cansado de tantos perigos e delícias
minha alma se espalhará ao vento
livre
leve
vermelha.


A.Lia

Meu rosto...


Meu rosto expressa a ausência
não sou nada
não tenho convicções, inspirações
certezas..
tudo me chega lenta
mente
com suores...
Meus passos são dobrados
como se precisasse de dois para cada passada
Tenho estado vazia, não de interesses
de vontades apenas...
As pessoas flutuam por mim como balões cinzentos
Mas, por vezes,
como por milagre
vejo um balãozinho vermelho...
e a ausência dá lugar a um certo rubor, ainda tímido
como um pequeno tremor de terra anunciando a erupção
Mas a distância logo se faz
e fico...contemplando...
o balãozinho vermelho.
A.Lia

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Retorno...


Volto a mim
Tenho uma morada silenciosa
um porto inseguro
que de tempos em tempos revisito
de mãos vazias
de fronte úmida
...
nenhuma fanfarra na entrada de mim
ninguém no portão
nenhuma luz acesa
apenas um excesso
de espaço
...
no vazio um certo alívio me saúda ao chegar
hospitaleiro, cativante, conhecido
Ah! amigo traiçoeiro
faz-te sempre acompanhar daquela que me devora o sono
como um abutre a bicar-me os olhos
...
na escuridão do regresso
a solidão crava as unhas em meu peito e arranca fora meu coração
levantando-o como um troféu de sangue
um prêmio pela vitória paciente
...
abandono meu corpo frio quase imóvel
ao apetite desta fiel companheira
e permaneço com o pensamento fixo
certo de sua crueldade
...
mas, ai Natureza!
para meu torpor, em algum momento
percebo que minha algoz, generosa
vai pouco a pouco
me devolvendo a mim
como a mãe que expulsa o feto do conforto do ventre
mas dá-lhe a vida
...
sinto assim
um soprar fresco
que dia a dia preenche o espaço vazio
preparando-me para uma nova viagem.
A.Lia

domingo, 11 de outubro de 2009

Amar...

Aos amantes deveria ser concedida a consciência
da dimensão da beleza
da raridade do encontro
pois a vida é feita de desencontros
Alguns poucos passam a vida amando
outros tantos passam passando
O amor não segue um caminho
não tem lógica
não tem métrica
nem ritmo
é um mistério absoluto
um milagre concedido aos corajosos e desprendidos
É isso,
talvez a coragem seja o atributo necessário aos amantes
e o desprendimento a chama que serve de guia
De qualquer forma
amem amantes!
amem pela beleza,
pelo privilégio,
por nós
que passamos apenas
por toda a vida..



A.Lia




sábado, 10 de outubro de 2009

Riso...


Eu rio
mas não um riso escancarado
um riso contido
tímido
de poucos dentes
Eu queria nascer com riso fácil
farto como os seios das mulheres de coragem
Eu invejo aqueles de choro contente
em que a tristeza do riso não tem morada
pois o riso triste não é ponta de lança afiada
é veneno lento e doce
que nasce com os de pouca razão.

A.Lia




cansaço...



Meu peito está oco
um vazio tão vazio
uma escuridão tão escura
uma massa de ar fria vai se expandindo por entre os espaços apertados
do meu corpo
meu estômago
entre minhas costelas
entre o coração e o pulmão
entre os ossos e a pele
um misto de revolta
de conforto
de dor
de solidão
um silêncio gelado toma conta do meu corpo
e o véu dos incrédulos começa a descer pelos meus olhos
envolvendo minh'alma cansada.


A.Lia

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Vôo cego...

Se eu pudesse comprar um bilhete com meu próprio destino
compraria um com hora de embarque,
com assento marcado
mas meu vôo é cego... de desejo.

A.Lia

Vão-se os valentes...

O que terá acontecido à geração dos valentes?
Por onde andam os heróis de guerra?
A era dos homens fortes desapareceu
e na ausência restaram meninos frágeis
que se escondem da lida em trincheiras
doces, refugiam-se em sua sensibilidade excessiva
cheios de dores e de amores
por vezes chorosos e dependentes..
Onde está a geração dos que sabiam
ou fingiam que sabiam
e de tanto fingir
acabavam sabendo..
Onde estão os que eram da linha de frente
os que iam seguros e adiante
aqueles de tiro certeiro
de palavras poucas
de ações muitas
sisudos
fechados
mas de coração grande e generoso
Ah... o que terá acontecido aos homens de caça?
estrategistas, astutos, confiantes e habilidosos
donos do seu destino..
Estes homens se foram
caíram de moda..
e eu... eu espero ter partido quando as mulheres realmente dominarem o mundo
e aniquilarem de vez o que de mais belo um dia existiu nos homens:
a valentia, a coragem, a iniciativa
e a força genuína e instintiva do olhar.


A.Lia
***A foto acima é de Harry Patch, o último veterano da Primeira Guerra Mundial a ter lutado nas trincheiras, falecido aos 111 anos no útimo dia 25 de julho.

Oração do artista...


Senhor, eu quero ter os olhos do sol
quero ser uma explosão lancinante
quero meu sangue um rio de lava
e meu corpo uma pequena ilha em formação
em brasa
sem pele
Que dos meus olhos desçam tormentas
derramando-se pelos poros abertos
dos meus cabelos exale o perfume dos desejos proibidos
e da minha boca cuspam-se faíscas
Ah meu Deus! Livre minha alma de ser morna
Mas me faça sempre generosa
escorrendo de minhas entranhas o bálsamo cicatrizante das feridas purgadas
e de minhas palavras um hálito esperançoso
Que dos meus pés, Senhor, caminhem raízes em busca de alimento
e minhas mãos iluminem o caminho dos que buscam
dos loucos de coração
dos valentes
Amém.
A.Lia

domingo, 20 de setembro de 2009

Promessa..

eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo...eu prometo... começar o regime na segunda e SÓ TERMINAR NA SEXTA!

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

?...


O que dizer quando as palavras não fazem sentido?
Para onde andar quando os pés estão pregados no chão?
Como sonhar se o sono não vem?
Para onde apontar se minhas mãos estão coladas ao rosto?
Meus olhos nada querem ver a não ser a beleza dura e fria das certezas
Meu coração se recusa a sentir, exceto aquilo que lhe conforta
Mas minha alma anseia
e meu corpo sofre de desejo
e nesta ânsia de desespero
meu peito vomita um pedido mudo de ajuda
mas o ouvem apenas meus ouvidos trancados
E aí, no limite da dor e por alguns instantes,
minha boca rasga o silêncio num urro subversivo
lançando longe tudo aquilo que se esconde por detrás da dúvida
da covardia
da solidão
Sei que em algum ponto desta imensidão
meu grito ecoa
e lá naquele recôndito, bem alí
estará o sono para meus sonhos
o conforto para meu peito
o sentido para minhas palavras
e o eco da minha alma.
A.Lia

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Madrugada...


Nessas madrugadas em que o sono tarda
o silêncio seria meu mais fiel inimigo, não foste tu...
Ouço-te, curiosa de tua cor
de tuas formas
de tuas intenções..
Inicias teus lamentos por volta das três
seguindo por um bom tempo
No início penso estares em minha janela
Mas ao longo de tua rotina
percebo que te afastas de mim
ocasião em que carece esforçar-me para ouvir-te
Ah.. doce trovador
diz-me de que tratam teus acordes
és meu companheiro na solidão da noite?
Por vezes, imagino-te ao pé de um galho
com tua penugem fria e orvalhada
evocando tua amada
tecendo versos desesperados
anunciando aos poetas tuas dores e teu desamor
Por vezes imagino-te celebrando tuas dádivas
deitando nos ouvidos da escuridão as tuas juras de amor
Ah.. amigo oculto
espalha em cada gota de orvalho
tua esperança
tua beleza
e me ensina a celebrar a vida
pois meu canto é triste
e minha existência incompleta.
A.Lia

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Éphémère...


Como funciona esta vida?
Ontem as orquídeas da minha área de serviço estavam lindas
não sei quanto tempo se passou
e hoje estão murchas
nem tive tempo de transferí-las para um vaso mais formoso
onde pudesse contemplá-las com mais vagar
rapidamente a beleza se esvaiu
numa velocidade muito acima daquela experimentada pelas minhas aflições
eu quero ter a rapidez da beleza
mas me dou conta de que sou a própria orquídea
de gestação lenta
de beleza efêmera
frágil
de morte certa
de ritmo próprio
sorrindo ao sol.
A.Lia

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Fé...

Sinto que vivo errada
na contramão das sensações
que passam através de mim
usando meu corpo e minha mente
Vivo reclusa num abrir e fechar de possibilidades
que variam do amor ao ódio
da esperança ao desespero...
eu não tenho fé.

Se eu pedisse ao nascer
pediria fé
fé na vida
fé nos outros
f'é em meus pés
em minhas mãos
em meus sentimentos
em meus desejos
em meus amores
queria caminhar firme e otimista...
mas me falta fé.

Às vezes corre pelas minhas veias
uma sensação de poder
que logo logo se enfraquece
dividindo-se pelos caminhos do meu corpo
dissolvendo-se
virando nada
e volto ao meu estado vazio
de incertezas, de dúvidas
sou pessimista
lenta
precipitada
sou vazia de interesses
sou oca de entusiasmo, então,
saio de mim
me abandono na mais pura descrença
cansando-me, largo-me às favas
e sozinha, reinicio o ciclo de poder
acreditando que posso tudo....
mas me falta fé.

A.Lia

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Bagagem...


Algo de antigo aprisiona minha alma
um medo infantil do amanhã.. uma convenção estúpida
uma bagagem falsa
que admitindo-se verdadeira, estaria em mim por repetição...
carrego em meu ombro um peso morto que fere meus desejos mais sinceros
A realidade que o medo me enfia goela abaixo não é minha
as regras não são minhas, as escolhas não são minhas
vivo alheia a mim mesma e pela metade
Peço-me agora a coragem de romper com aquilo que não sou eu
e tomar as rédias do meu pensamento oscilante
medroso
Nao, minha alma
a ti não pertence esta sina
a ti está reservada a liberdade dos espíritos puros
Passo neste momento a traçar o meu próprio destino
com a cor que me aprouver,
as consequências serão das minhas próprias ações
não beijarei a velhice com o peso do outro
quero meus próprios fracassos
meus próprios sucessos
vem amor, vem medo, vem fortuna
quero receber-vos de peito aberto
e não me enterrarei antes da morte
aliás, nem aí estarei sob jugo
ao contrário, serei ainda mais livre
mas levarei comigo apenas a minha bagagem
por direito e por dever
Me liberto hoje
desta herança morta.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Guerra...

Estou preenchida por um vazio cheio
como uma fresta de luz que invade um quarto escuro
meu peito está cheio de planos
meus sonhos cintilam na nesga iluminada
meu sangue dança acelerado
enchendo meus minutos de ritmo e de saudade
caminho confiante nesta faixa cintilante
e me lanço num fluxo de possibilidades

Uma outra parte do meu peito resta na escuridão
onde a luz não alcança
onde os sonhos escapam
onde o sangue ferve de pavor...
Mas não serei covarde
serei heroína da minha história
se tiver de cair
que seja em batalha
e não na trincheira
uma vez ferida, que seja no peito aberto
Vem vida
eu aceito a guerra
e vou festejar vitória em campo...
e de posse das minhas próprias armas
vou declarar paz a mim mesma.