terça-feira, 25 de outubro de 2011

Para quem não sou...

O teu amor é um blefe

Não, o teu amor não é um blefe

porque ele não é amor


Quero arrancar de mim a obrigação

de ser amada porque sou teu fruto

sou um fruto podre para ti

inoportuno


Sou apenas um costume

uma roupa justa

ou um sapato apertado, não

um sapato apertado nos livramos

e você não se livra de mim

sou um calo, um asco

se pudesses me vomitaria como uma comida estragada

sou uma nota promissória

um mal necessário


Hoje arranco de mim

a obrigação de ser algo a mais

sou um teu apêndice

absolutamente desnecessária.


A.Lia

domingo, 11 de setembro de 2011

Latência...


Por maior que seja o desencontro
por mais que o destino encha nossas vidas
de nada
de tanto

Por mais que seja certo
que as escolhas nos levem
pra longe
pra frente

Por mais impossível que seja voltar
àquela estação
de onde partiram nossos desejos
com bilhete só de ida

Por mais que o tempo tranque as portas
feche as cortinas do nosso espetáculo
pra nunca
pra sempre

Existe um brilho no teu olhar
escondido em cada encontro
em cada memória latente
daqueles quatro dias de amor.

A.Lia

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Agora...


Sinto agora
um enorme desprezo
por aquilo que poderia ser
Passo a viver com aquilo que tenho nas mãos
Viverei como se daqui a vinte anos
ou com a hipótese de não haver amanhã
viverei apenas
aqui
Agora
com aquilo que tenho de mim
Olhei-me
de perto
e gostei muito do que vi
Nada mais de promessas de futuro
viverei apenas
aqui
Agora
Aquilo que poderia ser
me fez enxergar quem eu sou
eu sou eu
eu sou
Nada além
Sei o que não quero
Passo a descobrir o outro
Agora
a amar o outro
Agora
aqui
Quero aquilo para quem significo
para quem sou ausência
Serei toda instante
aquilo que poderia ser não me interessa mais
serei o que é
aqui
Agora.




A.Lia

domingo, 28 de agosto de 2011

Espelho...

Olhar-se não é tarefa das mais fáceis
Mormente quando nada se vê
Não se pode dizer que nunca tenha tentado,
mas pareço-me aos olhos sempre um amontoado de cores
indisciplinadas
Não destaco movimento ou tendência
Nada que possa definir-me
Uma mancha amorfa
Sou um borrão.



A.Lia

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Love...

Você
aí do outro lado da janela
diz como é essa sua vida
me conta se vale à pena

Me dá um gole
corre léguas comigo
desmancha meu cabelo
presta atençao em mim

Me diz como eu sou
fala mal e bem de mim
me proíbe de coisas
me compra um vestido

Quebra essa janela
senta aqui comigo
e diz que morre por mim
de tanto viver.

A.Lia

domingo, 10 de julho de 2011

Além de si...


Eu queria ter nascido para fazer a diferença
queria inventar uma teoria que revolucionasse a física moderna
ou algo no nível da penicilina
uma sinfonia, um best seller

Queria viver um amor que fosse contado e recontado
por séculos
que virasse filme
ou um livro estudado nos bancos das escolas

Eu queria inspirar as pessoas
criar um movimento
um ícone
ser estudada em várias línguas

Mas eu sou apenas eu
e já me custa tanto
que abalar a física moderna
seria tarefa mais fácil

Quão sem graça e mesquinho
é viver ao redor de nós mesmos
a grandeza está em viver "para"
fora de si.

A.Lia

domingo, 1 de maio de 2011

Há dias tento expressar-me
e não consigo
As sensações estão em repouso, os gestos econômicos
o sorriso escondido

Há alguns dias que deixe-me para lá
e vim para cá de mim
para uma terra de ninguém
distante de tudo que é meu

Aqui chegada
percebo que não tenho nada
pouco de mim faz sentido
pouco de mim sou eu mesma

Nestes dias em que me falto
vivo emprestada, buscando respostas
na esperança de conseguir pagar-me
e devolver-me a mim mesma

Para existir falta-me um preço
um valor agregado
não sei quanto valio
por mais que ande de cá para lá de mim

Nessa imagem refletida
tudo tanto faz
tudo que vejo é nada
tudo que sinto é ausência.

A.Lia

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Bach...


Esta noite só quero o conforto
de uma vela acesa
e desta Aria
sulla quarta corda

Bach e a penumbra são um alinhamento necessário
do ouvido com os olhos
e com a alma
que pede calma

Meu corpo reclama tua presença
mas forço meu corpo a esperar
à luz somente desta chama
que insiste em dissipar a escuridão
à despeito do tempo que sopra veloz pela janela

Me desespero ao pensar
que este sopro pode apagar a vela
e nos levar à escuridão
mas se fosse imortal
não seria chama

Então
fecho os olhos
e apenas sinto como se estivesses presente
um sentimento enjaulado
à beira da liberdade

Não é tristeza
é uma enorme angústia
é certeza
é sólido
é amor.

A.Lia

quinta-feira, 17 de março de 2011

Medo...

De repente me senti vazia de ti
talvez porque não sinta que estás preenchido de mim
procuro dentro de mim algum pertence teu
algo que tenhas esquecido
no fundo da gaveta
alguma coisa que me aqueça da tua distância

O devaneio pela procura rasga meu peito
minha carne
envolve minha mente de dúvidas
e me traz um enorme desejo

Então vivo por esse devaneio
pela vontade de ti
numa espera sem razão
com medo de perder algo
que ainda não tive.

A.Lia

quarta-feira, 9 de março de 2011

Vento...

Uma rajada de vento
vinda do mar, densa
perfumada
carregou consigo um lenço deixado na areia

Caminhávamos desconhecidos um do outro
e de repente
fomos atingidos
ao mesmo tempo

Desde então
caminhamos vendados
com nossas cabeças envoltas
cegos, surdos e mudos para o mundo

Algo nos diz que lá adiante
o vento carregará o véu
e seremos nós, sem reservas
expostos ao tempo, livres.

A.Lia

sábado, 12 de fevereiro de 2011

As rosas...


De uma maneira inesperada
de onde menos se anunciava
a felicidade apertou-me as mãos
e saudou-me firmemente
dizendo que veio pra ficar
de mala e cuia
Explicou-me o motivo da demora:
ela veio de logo alí de longe
caminhando
contando passos
Num primeiro momento distraído
apressei-me em chamar-lhe à atenção
Porque não vieste antes?
Esperei-te por tanto tempo
veio o frio
a fartura
a chuva
o riso
a dor
apenas tu não chegaste
A felicidade olhou-me nos olhos
e despejou-me em uma das mãos
um punhado de pedrinhas...
Por alguns instantes percebi já conhecê-la
só assim, de passagem...
Não vou mentir-te - disse ela..
Poderia ter sido mais breve
se tivesse recolhido rosas para entregar-te
pois estavam pela superfície
e havia dúzias pelo caminho...
Estas pedrinhas que te trago
não tem o perfume das rosas,
mas, as rosas
ah! ...as rosas são efêmeras...
e os diamentes são eternos.
A.Lia

sábado, 5 de fevereiro de 2011

L de letrinha...

Olhava meu livro
com olhos de menina
Lia
re Lia
sempre eu...

Contudo, apesar das milhares de letrinhas
bailando bailando
minha histórinha nunca terminava com um "... felizes para sempre"
e as letrinhas cansadas de tanto bailar
iam cada uma para um lado
desconexas

Até que uma noite
depois de divertidas e incansáveis
cinco horas de leitura
percebi uma página
em branco
uma página que sempre esteve ali
talvez colada em outra
escondida

Desde então,
mantenho meus olhos fixos no vazio das letrinhas
e sinto que posso escrever tudo
tratados internacionais
acordos de paz
segredos
receitas de brigadeiro
ou uma simples história de amor
...com final feliz.

A.Lia