sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Para uma menina...


Para esta menina
de olhos noturnos
de ritmo acelerado
de grandes conquistas
e sólidos triunfos

Para esta menina
que em minhas memórias sopra
como uma brisa lenta e fresca
mas que de tão distante
embaraça minhas lembranças

Se soubesses menininha linda
quanta falta sinto daqueles dias ensolarados
cheios de mar
em que éramos nada
apenas crianças

Por vezes, ainda ouço nossos sorrisos
rasgando o silêncio da vida madura
desenhando em meu rosto um esboço
tímido e sem jeito
da alegria de antes

Hoje vejo, de longe, tuas vitórias
mas não mais teu riso encantado
talvez não tenhas mais tempo
pois, somente os tolos, com eu, se embriagam de saudades

Mas, esta noite, o silêncio me contou
que os dias da infância são eternos
e apesar da distância que insiste em apagar o passado
ainda vejo em teu rosto de beleza única
a essência daqueles dias de sonhos

Por isso, em mais esta madrugada em que o sono me foge
és minha inspiração para estas linhas tortas
assim como para esta vida louca
que sorrateiramente nos afasta
daquela feliz falta de previsão

Assim, formosa menina dos olhos distantes
não permita, nem em nome das vitórias
nem pelas certezas do futuro
que aquela brisa lenta e fresca de outrora
se transforme em um tufão de conquistas sem lastro e sem passado
levando consigo a poesia dos teus olhos e o encanto do teu sorriso.

A. Lia

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O ombro e o braço...

Quando você se sentou ao meu lado
em meio a tantos assentos vagos
teu braço tocou meu ombro
e permaneceu..
..por ora estávamos colados
fixos na impressão de que sempre estivémos alí..
A temperatura da tua pele me confortou
e no calor do desconhecido fechei os olhos..

Chegada a tua parada,
num impulso egoísta de tuas pernas
teu corpo se pôs em pé
e meu ombro deu adeus ao teu braço..

Veja você, como é a vida:
os desavisados cultuam deveras o olhar no ato de amar
entretanto, curiosamente, não saberei te reconhecer pelas ruas
pois meus olhos não conhecem os teus..
mas meu ombro, todo pomposo de sua autonomia
guardará em sua memória apartada, aquela tarde de amor.
A.Lia

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Se...

Ah .. minha amiga
porque escolheste brotar em solo tão inóspito?
escolheste tu, a solidão?
ou tua semente fora deixada pelos pássaros descuidados?
dize-me, o que sentes nestes dias em que o sol dorme
e o mar revolto lança sobre ti fúria e frustração?
Que destino dás aos teus desejos,
quando por dias e dias
restas sem nem mesmo um passarinho, piedoso de tua solidão
a pousar em teus galhos numerosos?
Ah, minha amiga,
se estes tolos voadores soubessem
quanto abrigo tens a oferecer
quanto alimento e repouso podes ofertar
quão segura e hospedeira é a tua companhia,
eles voariam por sobre o mar

até o sol, a suplicar que ele se fizesse logo primavera
e não deixasse nenhum dia de brilhar em tua copa
para que eles pudessem habitar-te por toda a estação
e tu serias alegre e verde...
e quando o inverno cinza chegasse,
levando com ele tuas folhas,
descançarias feliz,
na memória daqueles dias ensolarados.

A.Lia

A máscara...

Nasci sem sorriso
e triste por não saber sorrir
desenhei num pedacinho de papel, uma máscara
para que ninguém mais me chamasse de "olhos tristes"

Carrego comigo a máscara do sorriso
como um guarda-chuva ou uma sombrinha
dependendo do tempo...
e embora por muitas vezes ela me pese
mais até do que a própria derrota
tenho insistido em sua companhia

É curioso, mas, ultimamente tenho notado
que mesmo sem minha máscara
esboço, de vez em quando,
um sorriso
pela metade
porque sorrir é um enorme fardo para quem nasceu sem esta habilidade
como se a gravidade agisse também sobre o riso

Mas, pouco a pouco, estou aprendendo
que apesar do esforço
sorrir é digno
e ser gentil com a dor, alivia

Assim, dia-a-dia, vou usando minha máscara pelo caminho
na certeza de que um dia ela será parte de mim
e do meu rosto brotará um sorriso
inteiro
sincero e constante.

A.Lia

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Sombra e água fresca...


Não me reconheci o dia todo
existi fora de mim
expulsa do meu próprio corpo
cansado..

Tenho me esforçado muito nos últimos tempos
algo dentro de mim cumpre uma jornada de 24 horas ininterruptas
caminhando por areias escaldantes
em busca de mim mesma

Meu corpo, abusado, busca a sombra
e minha mente, água fresca
tenho sido escrava de minha alma
e agora preciso descançar
..vou em busca de abrigo..
preciso apenas de um mar
do barulho das ondas
do universo caminhando independente dos meus esforços
da vida plena
simples
divina.


A.Lia