sábado, 2 de janeiro de 2010

meu primeiro amor...


Eu sei que no último instante da minha vida
será teu meu pensamento,
não que isto me alegre a existência
é uma triste certeza
adquirida no resto dos dias em que vivo na tua ausência

Eu sei que é uma saudade solitária
de tudo que prometíamos ser
e não fomos...
..há decadas que não vejo teus olhos
que não sei nada de ti
nos perdemos no início desta vida
pra nunca mais...mas vivo com o tormento das lembranças,
com o nome do filho que teríamos,
com nosso primeiro beijo,
nossas tardes de amor nas casas abandonadas,
com teu cheiro ainda pairando ao meu redor...

Eu não entendo...
não entendo e não entendo
pois, amei outros homens, fui feliz
vivi muito mais do que contigo
mas a quantidade não é o que me consome os dias
a dor vem deste amor unitário,
desta pergunta que não tem resposta,
da revolta por carregar sozinha a mortália deste amor

Talvez nunca venhas saber
do quanto
de como
de nada...
o que é ainda pior...
alguém me disse um dia
que passamos muitas vidas juntos
dependentes
rebeldes, infantis, malvados
e então, concordamos em vir desta vez separados
com o nobre propósito de aprender a vida
um sem o outro...

Mas porque então nos encontramos logo no começo?
...talvez tenha sido uma tentativa minha, desesperada, de evitar esta prisão,
e assim, já comecei a vida trapaceando
porque (espero que não tenhas esquecido)
me apaixonei por ti recém completados dez anos
no primeiro dia de aula
tu já aos quatorze,
atrasado e mau aluno repetente,
com aquela mala preta, tímido
lindo... meu amor...
Ai de mim! Como são ainda vivos em mim estes momentos

Hoje, já aos quarenta, percebo que
no que pesem todas as provas bimestrais que te passei cola
durante os onze anos em que vivemos juntos,
não tenho sido boa aluna...
não estou conseguindo aprender a lição da solidão
ao contrário de ti
já curado de nós

Mas, por Deus, porque continuo sendo castigada pela memória
porque somente eu carrego este fardo
ao passo que tu tiveste os olhos lavados
de todas as nossas visões
e seguiste tua vida
ao longe... livre

Bem, depois de vinte anos de ausência
me resta aceitar tua presença em meus sonhos
carregando teu vulto noites adentro
e, de repente, num salto,
grito num grunhido disforme: TE AMO!!!!
E como num hotel, atordoada, aos poucos, entendo onde estou
e sei que horas se passarão até que eu esqueça a sensação de tua proximidade.

Estou acorrentada...
mas eu prometo que no dia de tua morte
irei ver-te
vou me despedir de ti
e alegremente direi: até breve meu amor
sei que não faltará muito pra te encontrar e entender os porquês,
porque ainda choro como se fizesse horas que nos separamos,
porque não respondeste a carta de amor que te mandei,
porque só eu te amei?

Enquanto isso,
vivo meus dias entre os eventos desta vida
carregando do lado direito do peito
um outro coração, morto,
um pedaço de mim que só sente saudade
um membro inútil que não se pode amputar
latejando em mim o que ficou de ti.


A.Lia

Um comentário:

Salamanca disse...

Meu Deus, Ale, que lindo isso!!!!
Fiquei emocionada ao ler, pois de certa forma fiz parte desta histora de amor!!!
Saudades de vc, minha amiga.